4 de dez. de 2023

CONTO DE NATAL

 O BOI E O BURRO NO PRESÉPIO

O céu estava em polvorosa! Os anjos batiam suas asinhas pra lá e pra cá. A agitação era geral. Tudo tinha que estar pronto para a grande data! O dia do nascimento do menino Deus! Os preparativos estavam adiantados, mas ainda tinha muita coisa para fazer! A alegria e a euforia estavam aparentes em cada gesto, em cada sorriso, em cada momento. Só uma ponta de tristeza: os anjos sabiam que o menino não teria muita ajuda no grande momento. Os homens, apesar de todos os avisos mandados há anos, nada fariam para auxiliar no nascimento do Salvador. Todas as portas estariam fechadas. Nenhum homem iria receber a santa família. O menino vai nascer num estábulo. Vai deitar numa manjedoura tendo a palha como colchão. José e Maria não teriam ninguém para ajudá-los nesse momento tão importante. O arcanjo Gabriel estava preocupado com isso até que teve uma idéia:

 

- Podíamos convidar dois bichos para ajudar no nascimento! Assim a família não ficaria sozinha nesse momento tão importante!

 

A idéia era boa! Mas que bichos convidar? Teriam que ser muito bem escolhidos. O próprio arcanjo Gabriel se encarregou de descer a terra para eleger os afortunados. E ele assim fez. Desceu ao mundo dos homens, chamou os ventos e mandou que eles espalhassem a notícia: o menino Deus vai nascer e precisa de dois bichos para estar ao seu lado nesse momento tão bonito!

Os ventos sopraram a boa nova por todos os cantos do mundo. Logo uma enorme fila de animais se formou na frente do arcanjo. Estavam todos lá: camelos, macacos, onças, girafas e por aí vai. O primeiro a chegar, naturalmente, foi o rei dos animais com sua enorme juba. Lá estava o leão no início da fila com cara de “já ganhou”. E ele encheu o peito e foi logo falando para o arcanjo enquanto sacudia aquela grande cabeleira:

 

- É evidente que, sendo o menino um rei, ele só pode ter ao seu lado alguém a sua altura. Sou um rei! Tenho minha força e minha realeza para oferecer ao pequeno! Não precisa nem chamar outro bicho! Minha real presença já basta!

 

Mas o arcanjo não gostou muito:

 

- Não! Pode baixar essa sua juba! O menino não vai precisar disso! Força e realeza ele já tem e não precisa ficar expondo isso por aí. E além do mais, com esses dentes tão grandes e essas garras pontudas você vai é assustar todo mundo.

 

O leão saiu com a cabeleira murcha e o rabo entre as pernas. Depois veio um bicho todo enfeitado. Todo garboso. Todo metido. Com uma calda grande e colorida que ele agitava rápido enquanto olhava para os lados querendo causar inveja. Era o pavão. Chegou na frente do arcanjo e abriu toda aquela plumagem colorida causando espanto nos outros animais. Depois deu duas voltas girando no mesmo lugar para mostrar todo o seu esplendor.

 

- Eu sou perfeito para cumprir essa tarefa. O menino é um Rei! Tem que estar junto da formosura! Com toda a minha beleza transformarei aquele mísero estábulo num palácio digno de receber o pequenino!

 

Mas o arcanjo Gabriel também não gostou:

 

- Nem pensar! Ninguém precisa dessa vaidade toda! Dessa exibição sem sentido! O deus Menino já trará dentro de si toda a beleza do mundo!

 

O pavão saiu ofendido e com a crista baixa. Em seguida veio a raposa, toda matreira, também achando que o lugar já era seu. Aproximou-se de Gabriel e foi dizendo com fala mansa e nariz empinado:

 

- Sou a mais adequada para cumprir a tarefa! Sou esperta! Engano qualquer um! Além disso, o pequeno não vai passar fome comigo! Conheço tudo que é galinheiro dessa região! Não vai faltar ovinho para fazer uma boa gemada para o pequeno. E ainda posso arranjar um franguinho novo para saciar a fome dos pais...

           

Mas o arcanjo não gostou da conversa:

 

- Saia daqui, sua danada! O menino não vai precisar dessa sua esperteza! Procure seu rumo!

 

A raposa saiu rapidinho com o focinho baixo. E assim, um por um, foram passando todos os bichos da enorme fila. E nenhum agradou ao arcanjo que achou melhor desistir da idéia. O menino Deus ficaria mesmo sozinho numa hora tão importante. Cabisbaixo ele começou a bater suas asas para voltar ao céu. Já estava bem alto quando viu, lá de cima, um boi e um burro que trabalhavam num descampado. Gabriel não lembrava de tê-los visto na grande fila. Será que eles não receberam a notícia? O arcanjo desceu e foi ter com os dois trabalhadores. O boi e o burro se espantaram ao ver Gabriel, mas o arcanjo os acalmou:

 

- Calma! Não se assustem! Vim apenas fazer uma pergunta! Não vi os dois na fila dos animais! Não souberam que estamos precisando de dois animais para estar junto ao Jesus Menino quando ele nascer?

 

O burro baixou os olhos e respondeu:

 

- Ficamos sabendo, meu senhor! Mas somos só dois trabalhadores! Não temos nada para oferecer ao grande Rei! Os outros animais têm realeza, esperteza e beleza. Nós só         temos nossos lombos pra aguentar o trabalho!

 

O boi ainda completou:

 

- O máximo que poderíamos fazer é espantar as moscas de cima do Deus Menino balançando nossos rabos! Talvez, aquecer o pequeno com o sopro das nossas narinas! Mas isso não é coisa que se ofereça a um Rei! Não somos dignos de estar junto daquele que vai salvar o mundo!

 

O arcanjo se encheu de alegria e disse:

 

- Pois vocês são os escolhidos!

 

O boi e o burro ficaram mais espantados:

 

- Nós?

- Sim! - respondeu Gabriel – Vocês são os escolhidos!  É exatamente o que precisamos: humildade e fé! Você, burro, trará a família para Belém e ficará com eles em todos os momentos! Você, boi, vai ficar junto com o burro no estábulo! Vão espantar as moscas com suas caldas e o frio com o ar quente de suas narinas!

 

Assim foi dito! Assim foi feito!

E até hoje o boi e o burro estão junto com o Deus menino em todos os presépios do mundo.

Adaptação de Augusto Pessôa

In: Histórias de Natal - Editora Escrita Fina

FONTE: https://www.augustopessoa.com/histrias-de-natal

CONTOS DE NATAL

 


A ÁRVORE E O LENHADOR

 

       Numa pequena casa em uma grande floresta morava um lenhador com sua mulher e seus dois filhos. Eles eram muito pobres, mas viviam bem com o pouco que tinham. Era véspera de Natal e todos ajudaram a preparar a festa. A ceia foi posta na mesa. Tinha pouca comida, mas o suficiente para toda a família. Quando todos estavam sentados, ouviram uma batida na porta. O lenhador se levantou e foi ver quem era. Na entrada da casa ele encontrou uma criança, um menino, sujo, com as roupas rasgadas e muito pálido. O lenhador perguntou:

 

       - O que você quer, menino?

       - Estou com fome e não tenho aonde passar o Natal! O senhor teria um pouco de comida para me dar?

 

       Sem pestanejar o lenhador respondeu:

 

       - Você vai comer e passar o Natal com a gente!

 

       O lenhador abriu bem a porta e fez o menino entrar. A família parou a ceia. A mãe preparou um banho para o desconhecido e as crianças pegaram roupas para ele. Depois do banho, ele se vestiu. As roupas não eram novas. Estavam até remendadas. Mas estavam limpas e cheirosas. Banhado e vestido o menino sentou junto com a família e todos comeram a comida que era pouca, mas foi o suficiente para todos e estava deliciosa.  Terminada a ceia a família e seu convidado fizeram uma oração. Depois, o lenhador preparou uma cama para o menino poder descansar e todos foram dormir.

       No dia seguinte, dia de Natal, bem cedo a família foi despertada pelo mais belo canto que já tinham ouvido. Eles foram ao quintal da casa seguindo aquela maravilhosa melodia e lá encontraram o menino cercado por um coro de anjos. A criança já não estava vestida com as roupas dos filhos do lenhador. Usava um manto vermelho magnífico rodeado por luzes brilhantes. Os donos da casa não acreditavam que estavam diante de tanta beleza. O menino olhou para eles e disse:

 

       - Feliz Natal, meus amigos!

 

       O lenhador, um pouco espantado, perguntou:

 

       - Quem é você?

 

       E a criança respondeu:

 

       - Eu sou o Menino Jesus! Vocês me receberam com tanta bondade que quero agora lhes dar um presente!

 

       O Deus menino disse isso, quebrou o galho de um pinheiro e plantou no meio do quintal. Depois se afastou um pouco. A árvore cresceu e se encheu de frutas. A família ficou admirada e o menino disse:

 

       - Essa árvore vai dar frutas o ano todo! Mesmo no inverno! Vocês nunca vão passar fome!

 

       As crianças foram até a árvore, colheram algumas frutas e provaram. O gosto era delicioso. O Deus menino quebrou um galho da árvore e levou para dentro da casa. Colocou o galho em pé no meio da sala e disse:

 

       - Todos os anos, no Natal, vocês vão tirar um galho da árvore, vão coloca-lo aqui e enfeitá-lo! Vai ser uma lembrança desse   nosso encontro e do verdadeiro significado do Natal!

 

       Ele disse isso e a árvore se encheu de bolas coloridas e brilhantes. O menino Jesus desapareceu junto com os anjos e a família ficou feliz com tanta beleza.

       Todos os anos eles montavam a árvore de Natal. Seus vizinhos, amigos e parentes também passaram a fazer o mesmo e esse costume foi passando de geração em geração até os dias de hoje.

Adaptação de Augusto Pessôa

In: Histórias de Natal

Editora Escrita Fina

 Fonte: https://www.augustopessoa.com/histrias-de-natal