Professora doutora Luciane Maria Wagner Raupp
Possui graduação em Letras pela
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1993), especialização em Linguistica do
Texto (1995), mestrado em Ciências da Comunicação/ Semiótica pela Universidade
do Vale do Rio dos Sinos (1999) e doutorado em Letras / Teoria da Literatura
pela PUCRS (2013). Atualmente, é professora das Faculdades Integradas de
Taquara (FACCAT) e do Instituto Superior de Educação Ivoti (ISEI), nos cursos
de Letras . Coordena a subárea de Letras do Pibid (Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência) na Faccat.Tem experiência na área de Letras,
Comunicação Social e Direito, com ênfase em Produção Textual, Metodologia do
Ensino e Literatura, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura
infantil, teoria literária, leitura e produção de textos acadêmicos. leitura e
produção de textos ficcionais, produções midiáticas e propostas pedagógicas.
Informações
coletadas do Lattes em 12/04/2016
Vamos ler um texto da
autora, para conhecê-la um pouco mais?
Texto: TURMA 53 - Luciane Maria
Wagner Raupp
Nós tínhamos 11 anos, todos os sonhos do mundo e
três gols atravessados na garganta. Todos eles de um certo Paolo Rossi, o
carrasco italiano que baleou a mais genial seleção brasileira de todos os
tempos.
Apesar dos tiros no peito, o outro dia era de aula.
E de lamentar-se na troca dos períodos:
—
Como que isso foi acontecer? — perguntava-se a Fabiane.
— A
culpa foi daquela zaga podre, daquele Valdir Peres que só fez besteira! — berrou
o João lá do fundo da sala.
—
Claro que a culpa é do técnico, meu vô que disse — argumentou a Graceline.
E a
Dona Vera, professora de Português, que adentrava a sala, entrou na discussão,
pensando encerrá-la:
— A
culpa é que a seleção é de homens. No Brasil, eles não fazem nada que preste.
Só falta a nós, mulheres, termos que vestir a camiseta amarela também. E tenho
dito. Agora, silêncio, turma 53, que futebol não dá futuro para ninguém.
Quando Dona Vera se virou para apagar o quadro, as
meninas fizeram bananas e outros gestos menos cordiais para os meninos. A troca
fuzilante de olhares disse que o caso não acabava ali.
E não ficou por isso mesmo. No recreio, o Paulo, o
Pedro e o João foram até o grupinho das gurias, coisa que era terminantemente
proibida. O João encarou a Tati, a líder das meninas, jogando sua franja argentina
para o lado:
—
Se as mulheres da 53 são tão, tão assim, nós desafiamos vocês para uma
partidinha de futebol.
— E
damos até um mês de lambuja para vocês treinarem — disse, irônico, o Pedro.
A
Tati não baixou o queixo:
—
Pois está marcado. Daqui a um mês. Preparem-se para morrer.
Quando o trio masculino virou as costas, as gurias
soltaram a polvorosa: como que a Tati não desconversou? Que fiasco seria
aquele, Santo Deus! Todo mundo sabia que os guris da 53 eram os melhores
jogadores da escola. A Tati, numa calma fingida, já tinha um plano, que a
seguissem.
Foram todas para à porta da sala dos professores.
Pediu para falar com a Dona Vera e com a Dona Zuleika, a professora de Educação
Física. Explicou toda a situação. Dona Vera, então, comprou a briga e convenceu
Dona Zuleika a treinar, secretamente, depois das aulas as meninas.
Foi um mês de treinos intensos. Claro que os guris
ficaram sabendo. Acharam tão engraçado que até resolveram suspender as peladas
até o grande dia, que, enfim, chegou.
O duelo seria na aula de Educação Física. Trinta
minutos, quinze para cada lado. As turmas 52 e 54 foram liberadas para assistir
ao duelo. O avô da Roberta, a experiente goleira – de handebol, diga-se -, e o
pai da Lu, a zagueira, juntaram-se à Dona Zuleika. Eram a comissão técnica.
“Mais vale não levar do que fazer”, lembraram os integrantes da comissão às
jogadoras.
E foi o que elas fizeram.
Ninguém passava pela Lu, que tomava cuidado para que
ninguém cavasse um pênalti. A Tati e a Fabi mostravam toda a agilidade nas
roubadas e nas retomadas. A genialidade do Paulo, no entanto, custava a
aparecer, soterrada sob grossas camadas de salgadinhos, refri e bolachas que
consumiu no tempo-de-não-treino. A câimbra nas pernas do João doía menos que
sua consciência pesada por ter subestimado as gurias e por todas as porcarias que
comeu naquele fatídico mês.
Acabados os 15 minutos, nada de gol. A 52 e a 54
vaiaram a pelada braba.
Nos 14 minutos do segundo tempo, em uma distração
fatal do João, a Fabi roubou a bola no contra-ataque, tabelou com o zagueiro
e.... gooooooooool!
Abraços, risadas, cumprimentos gerais. Os guris
cumprimentaram, orgulhosos, as suas colegas. Foi hora das gurias da 53
mostrarem seu valor.