17 de abr. de 2016

ESPECIAL: TURMA 61


Foto do perfil de Luciane Raupp

Professora doutora Luciane Maria Wagner Raupp
Possui graduação em Letras pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1993), especialização em Linguistica do Texto (1995), mestrado em Ciências da Comunicação/ Semiótica pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1999) e doutorado em Letras / Teoria da Literatura pela PUCRS (2013). Atualmente, é professora das Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT) e do Instituto Superior de Educação Ivoti (ISEI), nos cursos de Letras . Coordena a subárea de Letras do Pibid (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) na Faccat.Tem experiência na área de Letras, Comunicação Social e Direito, com ênfase em Produção Textual, Metodologia do Ensino e Literatura, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura infantil, teoria literária, leitura e produção de textos acadêmicos. leitura e produção de textos ficcionais, produções midiáticas e propostas pedagógicas.

Informações coletadas do Lattes em 12/04/2016

Vamos ler um texto da autora, para conhecê-la um pouco mais?
 Texto: TURMA 53 - Luciane Maria Wagner Raupp
Nós tínhamos 11 anos, todos os sonhos do mundo e três gols atravessados na garganta. Todos eles de um certo Paolo Rossi, o carrasco italiano que baleou a mais genial seleção brasileira de todos os tempos.
Apesar dos tiros no peito, o outro dia era de aula. E de lamentar-se na troca dos períodos:
— Como que isso foi acontecer? — perguntava-se a Fabiane.
— A culpa foi daquela zaga podre, daquele Valdir Peres que só fez besteira! — berrou o João lá do fundo da sala.
— Claro que a culpa é do técnico, meu vô que disse — argumentou a Graceline.
E a Dona Vera, professora de Português, que adentrava a sala, entrou na discussão, pensando encerrá-la:
— A culpa é que a seleção é de homens. No Brasil, eles não fazem nada que preste. Só falta a nós, mulheres, termos que vestir a camiseta amarela também. E tenho dito. Agora, silêncio, turma 53, que futebol não dá futuro para ninguém.
Quando Dona Vera se virou para apagar o quadro, as meninas fizeram bananas e outros gestos menos cordiais para os meninos. A troca fuzilante de olhares disse que o caso não acabava ali.
E não ficou por isso mesmo. No recreio, o Paulo, o Pedro e o João foram até o grupinho das gurias, coisa que era terminantemente proibida. O João encarou a Tati, a líder das meninas, jogando sua franja argentina para o lado:
— Se as mulheres da 53 são tão, tão assim, nós desafiamos vocês para uma partidinha de futebol.
— E damos até um mês de lambuja para vocês treinarem — disse, irônico, o Pedro.
A Tati não baixou o queixo:
— Pois está marcado. Daqui a um mês. Preparem-se para morrer.
Quando o trio masculino virou as costas, as gurias soltaram a polvorosa: como que a Tati não desconversou? Que fiasco seria aquele, Santo Deus! Todo mundo sabia que os guris da 53 eram os melhores jogadores da escola. A Tati, numa calma fingida, já tinha um plano, que a seguissem.
Foram todas para à porta da sala dos professores. Pediu para falar com a Dona Vera e com a Dona Zuleika, a professora de Educação Física. Explicou toda a situação. Dona Vera, então, comprou a briga e convenceu Dona Zuleika a treinar, secretamente, depois das aulas as meninas.
Foi um mês de treinos intensos. Claro que os guris ficaram sabendo. Acharam tão engraçado que até resolveram suspender as peladas até o grande dia, que, enfim, chegou.
O duelo seria na aula de Educação Física. Trinta minutos, quinze para cada lado. As turmas 52 e 54 foram liberadas para assistir ao duelo. O avô da Roberta, a experiente goleira – de handebol, diga-se -, e o pai da Lu, a zagueira, juntaram-se à Dona Zuleika. Eram a comissão técnica. “Mais vale não levar do que fazer”, lembraram os integrantes da comissão às jogadoras.
E foi o que elas fizeram.
Ninguém passava pela Lu, que tomava cuidado para que ninguém cavasse um pênalti. A Tati e a Fabi mostravam toda a agilidade nas roubadas e nas retomadas. A genialidade do Paulo, no entanto, custava a aparecer, soterrada sob grossas camadas de salgadinhos, refri e bolachas que consumiu no tempo-de-não-treino. A câimbra nas pernas do João doía menos que sua consciência pesada por ter subestimado as gurias e por todas as porcarias que comeu naquele fatídico mês.
Acabados os 15 minutos, nada de gol. A 52 e a 54 vaiaram a pelada braba.
Nos 14 minutos do segundo tempo, em uma distração fatal do João, a Fabi roubou a bola no contra-ataque, tabelou com o zagueiro e.... gooooooooool!

Abraços, risadas, cumprimentos gerais. Os guris cumprimentaram, orgulhosos, as suas colegas. Foi hora das gurias da 53 mostrarem seu valor.

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