30/06/2012
29/06/2012
LITERATURA - TURMA: 26
Arcadismo
O Balanço (década
de 1730), de Nicolas Lancret
O Arcadismo, também conhecido como Setecentismo ou Neoclacissismo,
é o movimento que compreende a produção literária brasileira na segunda metade
do século XVIII. O nome faz referência à Arcádia, região do sul da Grécia que,
por sua vez, foi nomeada em referência ao semideus Arcas (filho de Zeus e
Calisto).
Denota-se, logo de início, as referências à mitologia grega que
perpassa o movimento.
Profundas mudanças no contexto histórico mundial caracterizam o
período, tais como a ascenção do Iluminismo, que pressupunha o racionalismo, o
progresso e as ciências. Na América do Norte, ocorre a Independência dos
Estados Unidos, em 1776, abrindo caminho para vários movimentos de
independência ao longo de toda a América, como foi o caso do Brasil, que
prsenciou inúmeras revoluções e inconfidências até a chegada da Família Real em
1808.
O movimento tem características reformistas, pois seu intuito era
o de dar novos ares às artes e ao ensino, aos hábitos e atitudes da época. A
aristocracia em declínio viu sua riqueza esvair-se e dar lugar a uma nova
organizaçõ econômica liderada pelo pensamento burguês.
Ao passo que os textos produzidos no período convencionado de
Quinhentismo sofreram influência direta de Portugal e aqueles produzidos
durante o Barroco, da cultura espanhola, os do Arcadismo, por sua vez, foram
influenciados pela cultura francesa devido aos acontecimentos movidos pela
burguesia que sacudiram toda a Europa (e o mundo Ocidental).
Segundo o crítico Alfredo Bosi em seu livro História
Concisa da Literatura Brasileira (São
Paulo: editora Cultrix, 2006) houve dois momentos do Arcadismo no Brasil:
a) poético: retorno à
tradição clássica com a utilização dos seus modelos, e valorização da natureza
e da mitologia.
b) ideológico:
influenciados pela filosofia presente no Iluminismo, que traduz a crítica da
burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.
Seus principais autores são Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio
Gonzaga, Basílio da Gama e Santa Rita Durão. No Brasil, o ano convencionado
para o início do Arcadismo é 1768, quando houve a publicação de Obras,
do poeta Claudio Manoel da Costa.
Arcádia Ultramarina
Trata-se de uma sociedade literária fundada na cidade de Vila Rica
(MG), influenciada pela Arcádia italiana (fundad em 1690) e cujos membros
adotavam pseudônimos, isto é, nomes artísticos, de pastores cantados na poesia
grega ou latina. Por isso que alguns dos principais nomes do Arcadismo
brasileiro publicavam suas obras com nomes inspirados na mitologia grega e
romana.
Principais características
- inspiração nos modelos clássicos greco-latinos e renascentistas,
como por exemplo, emO
Uraguai (gênero
épico), em Marília de Dirceu (gênero lírico) e em Cartas
Chilenas(gênero satírico);
- influência da filosofia francesa;
- mitologia pagã como elemento estético;
- o bom selvagem, expressão
do filósofo Jean-Jacques Rousseau, denota a pureza dos nativos da terra fazem
menção à natureza e à busca pela vida simples, bucólica e pastoril;
- tensão entre o burguês culto, da cidade, contra a aristocracia;
- pastoralismo: poetas simples e humildes;
- bucolismo: busca pelos valores da natureza;
- nativismo: referências à terra e ao mundo natural;
- tom confessional;
- estado de espírito de espontaneidade dos sentimentos;
- exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza.
Termos em latim
O uso de expressões em latim era comum no neoclacisssimo. Elas
estavam associados ao estilo de vida simples e bucólico. Conheça algumas delas:
Inutilia
truncat: "cortar
o inútil", referência aos excessos cometidos pelas obras do barroco. No
arcadismo, os poetas primavam pela simplicidade.
Fugere urbem: "fugir
da cidade", do escritor clássico Horácio;
Locus amoenus: "lugar
ameno", um refúgio ameno em detrimento dos centros urbanos monárquicos;
Carpe diem: "aproveitar
a vida", o pastor, ciente da efemeridade do tempo, convida sua amada a
aproveitar o momento presente.
Cabe
ressaltar, no entanto, que os membros da Arcádia eram todos burgueses e
habitantes dos centros urbanos. Por isso a eles são atribuídos um fingimento
poético, isto é, a simulação de sentimentos fictícios.
Autores
Cláudio Manoel da Costa (1729-1789)
Cláudio Manoel da Costa, o
poeta mineiro nascido em 1729, ilustrado por Newton Resende.
|
Também conhecido como o "guardador
de rebanhos" Glauceste Satúrnio, seu pseudônimo, Cláudio Manoel da Costa
nasceu na cidade de Mariana (em Minas Gerais). Estudou Direito em Coimbra, onde
teve contato com as principais ideias do Iluminismo e, ao voltar para o Brasil,
fundou da Arcádia Ultramarina em Vila Rica. Era um homem muito rico e de posses
que influenciou a elite intelectual da época. Por ter participado da
Inconfidência Mineira, foi preso e encontrado enforcado na cadeia em 1789.
Os temas iniciais de sua obra giram em
torno das reflexões morais e das contradições da vida com forte inspiração nos
modelos barrocos.
Posteriormente, dedicou-se à poesia
bucólica e pastoril na qual a natureza funciona como um refúgio para o poeta
que busca a vida longe da cidade e reflete o as angustias e o sofrimento
amoroso com sua musa inacessível Nise. Estes poemas fazem parte do conjunto
intitulado Obras (1768).
Cláudio Manoel da Costa também se
dedicou à exaltação dos bandeirantes, fundadores de inúmeras cidades da região
mineradora e desbravadores do interior do país e de contar a história da cidade
de Ouro Preto no poemeto épico Vila
Rica (1773).
Veja um exemplo de
sua poesia bucólica:
Sonetos
X
Eu
ponho esta sanfona, tu, Palemo,
Porás a ovelha branca, e o cajado; E ambos ao som da flauta magoado Podemos competir de extremo a extremo.
Principia,
pastor; que eu te não temo;
Inda que sejas tão avantajado No cântico amebeu: para louvado Escolhamos embora o velho Alcemo.
Que
esperas? Toma a flauta, principia;
Eu quero acompanhar te; os horizontes Já se enchem de prazer, e de alegria:
Parece,
que estes prados, e estas fontes
Já sabem, que é o assunto da porfia Nise, a melhor pastora destes montes. |
E de sua poesia
épica:
Vila Rica
Canto VI Levados de fervor, que o peito encerra Vês os Paulistas, animosa gente, Que ao Rei procuram do metal luzente Co'as próprias mãos enriquecer o erário. Arzão é este, é Este, o temerário, Que da Casca os sertões tentou primeiro: Vê qual despreza o nobre aventureiro, Os laços e as traições, que lhe prepara Do cruento |
Tomás Antônio
Gonzaga (1744-1810)
Nasceu na cidade de Porto, em
Portugal, porém, filho de mãe portuguesa e pai brasileiro, vive parte da vida
no Brasil. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, muda para o
Brasil para trabalhar como ouvidor e juiz. Aqui, pretendia se casar com a
jovem Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, sua musa Marília.
No entanto, como participara da Inconfidência
Mineira, é preso e levado para o Rio de
Janeiro. Quando sai da prisão, muda-se para Moçambique, na África, onde casa
com Juliana de Sousa Mascarenhas.
Tomás Antônio Gonzaga é o pastor
Dirceu, pseudônimo criado pelo poeta para seu conjunto de liras famosas
intitulado Marília de Dirceu, publicadas em três partes nos anos
de 1792, 1799 e 1812. Nessa obra, Dirceu é o pastor que cultiva o ideal da
vida campestre, que vive entre ovelhas em uma choupana e aproveita o momento
presente ao lado da amada Marília.
Lira
I
Eu,
Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, d’expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças,
Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Lira
XIX
Enquanto
pasta alegre o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos À sombra deste cedro levantado.
Um
pouco meditemos
Na regular beleza, Que em tudo quanto vive, nos descobre A sábia natureza. Atende, como aquela vaca preta O novilhinho seu dos mais separa, E o lambe, enquanto chupa a lisa teta. Atende mais, ó cara, Como a ruiva cadela Suporta que lhe morda o filho o corpo, E salte em cima dela. Repara, como cheia de ternura Entre as asas ao filho essa ave aquenta, Como aquela esgravata a terra dura, E os seus assim sustenta; Como se encoleriza, E salta sem receio a todo o vulto, Que junto deles pisa. Que gosto não terá a esposa amante, Quando der ao filhinho o peito brando, E refletir então no seu semblante! Quando, Marília, quando Disser consigo: “É esta “De teu querido pai a mesma barba, “A mesma boca, e testa.”
Lira
XV
Eu,
Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua aldeia; Vestia finas lãs, e tinha sempre A minha choça do preciso cheia. Tiraram-me o casal, e o manso gado, Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.
Curiosidade: como aponta o crítico Alfredo Bosi
em seu História Concisa da Literatura
Brasileira (São Paulo:
Cultrix, 2006), há uma mudança na cor dos cabelos de Marília, que ora são
negros, ora dourados, como se pode observar nos trechos a seguir:
Os
seus compridos cabelos,
que sobre as costas odeiam, são que os de Apolo mais belos, mas de loura cor não são. Têm a cor da negra noite; e com o branco do rosto fazem, Marília, um composto da mais formosa união.
Em outra passagem, observa-se:
Os
teus olhos espelham a luz divina,
a quem a luz do sol em vão se atreve; papoila ou rosa delicada e fina te cobre as faces, que são da cor da neve. Os teus cabelos sao uns fios d'ouro; teu lindo corpo bálsamos vapora.
Essa oscilação, segundo o crítico,
demonstraria o compromisso árcade entre o real e os padrões de beleza do lirismo
inspirado no poeta clássico Petrarca. Outra oscilação presente nos poemas é
entre o pastor bucólico e o intelectual da cidade.
Percebe-se, no entanto, uma mudança
considerável no discurso do poeta, coincidindo com a época em que o autor
esteve preso e passa a refletir sobre as angústias do aprisionamento, a
justiça e o destino dos homens.
Cabe ressaltar, no entanto, que,
embora o conjunto de liras seja dedicado à amada Marília, em momento algum
temos a voz da personagem idealizada. É apenas Dirceu quem discorre acerca
dos seus sentimentos. Segundo alguns críticos literários, esse fato é um
reflexo da sociedade patriarcal em que Gonzaga vivia, não permitindo que suas
personagens pudessem expressar suas vozes.
Por fim, Tomás Antônio Gonzaga também
ficou conhecido por suas Cartas Chilenas, compostas por 13 poemas satíricos
escritos antes da Inconfidência Mineira. Novamente, Gonzaga cria personagens
e pseudônimos: aqui, Critilo assina as cartas e as envia paraDoroteu. O conteúdo das "cartas"
são críticas ao suposto governador do Chile (onde vive Critilo) Fanfarrão
Minésio, uma referência ao governador de Minas Gerais Luís da Cunha Meneses.
Veja um exemplo:
Amigo
Doroteu, prezado amigo,
Abre os olhos, boceja, estende os braços E limpa, das pestanas carregadas, O pegajoso humor, que o sono ajunta. Critilo, o teu Critilo é quem te chama; Ergue a cabeça da engomada fronha Acorda, se ouvir queres coisas raras.
(...)
Ah!
pobre Chile, que desgraça esperas!
Quanto melhor te fora se sentisses As pragas, que no Egito se choraram, Do que veres que sobe ao teu governo Carrancudo casquilho, a quem rodeiam Os néscios, os marotos e os peraltas! Seguido, pois, dos grandes entra o chefe No nosso Santiago junto à noite. A casa me recolho e cheio destas Tristíssimas imagens, no discurso, Mil coisas feias, sem querer, revolvo. Por ver se a dor divirto, vou sentar-me Na janela da sala e ao ar levanto Os olhos já molhados. Céus, que vejo! Não vejo estrelas que, serenas, brilhem, Nem vejo a lua que prateia os mares: Vejo um grande cometa, a quem os doutos Caudato apelidaram. Este cobre A terra toda co’ disforme rabo. |
Santa Rita Durão
(1722-1784)
Seu trabalho mais conhecido é o Caramuru (1781), cujo subtítulo, Poema épico do descobrimento
da Bahia, remonta ao tempo em que os primeiros
europeus chegaram ao Brasil e travaram contato com os nativos.
Caramuru é o nome dado ao português Diogo Álvares
Correia que passa a viver entre os índios Tupinambás após sobreviver a um
naufrágio no litoral baiano. Considerado um herói "cultural", que
ensina as leis e as virtudes aos "bárbaros" que aqui viviam, ganha
o respeito dos índios ao disparar uma arma de fogo. Os índios, assustados,
equiparam-no a Tupã e passam a respeitá-lo como uma entidade eviada. Ele se
encanta com Paraguaçu, a bela índia de pele branca. Já instalado na tribo,
Diego percebe a possibilidade de difundir a fé cristã para os índios,
doutrinando-os após ter encontrado uma gruta que se assemelharia a uma
igreja.
Mais adiante, Diego ajuda a resgatar a tripulação
de um barco espanhol que havia naufragado e vê a possibilidade de retornar à
Europa através da nau francesa que viera resgatar aquela tripulação. Parte,
com Paraguaçu, deixando para trás as belas índias que haviam se apaixonado
por ele, incluindo Moema, a mais bela, que atira-se ao mar em direção ao
navio na tentativa de alcançar o seu amado. Ao chegar na Europa, Paraguaçu é
batizada de Catarina, ambos são festejados e recebem as honras da realeza
lusitana.
Moema (1866),
por Victor Meireles
O poema segue a estrututura dos versos camonianos
(de Camões) e da epopeia clássica, com fortes influências da mitologia grega:
composto por 10 cantos, versos decassílabos, oitava rima camoniana. Segue
também com a divisão tradicional das epopeias: proposição, invocação,
dedicatória, narração e epílogo.
Conheça um trecho do poema épico em que é narrada
a morte da índia Moema, uma das mais belas cenas já descritas na literatura
brasileira:
|
|||
Basílio da Gama (1741-1795)
Foi para o Rio de Janeiro, onde
estudou no Colégio dos Jesuítas e era noviço quando os jesuítas foram
expulsos do país. Exilou-se na Itália e filiou-se na Arcádia Romana, sob o
pseudônimo de Termindo Sipílio. É preso por jesuitismo, em Lisboa, e enviado para
Angola, livrando-se do exílio ao escrever um poema para a filha do Marquês de
Pombal.
Em 1769 publica o poema épico O
Uraguai, criticando os jesuítas e defendendo a política do Marquês de Pombal
que o transforma em oficial da Secretaria do Reino. A crítica recaía no fato
de que os jesuítas não defendiam os índios, apenas pretendiam falsamente
libertá-los e usar a mão de obra indígena para proveito próprio.
Em 1750, com o Tratado de
Tordesilhas, a missão dos Sete Povos passaria aos portugueses enquanto que
Colônia de Sacramento, no Uruguai, passaria para os espanhóis. O poema narra
a luta dos portugueses contra os índios das Missões (instigados pelos
jesuítas espanhóis) que se recusam a sair de suas terras, dando início aos
conflitos conhecidos como as Guerra Guaranítica (1754-56).
A crítica recai, principalmente,
sobre o personagem Balda, padre jesuíta que encarna o mal. Corrupto e
desleal, seduz uma índia e tem um filho com ela, Baldeta. Na aldeia moram
também o chefe da tribo Cacambo e sua mulher Lindóia, casal que representa a
força do guerreiro e a beleza e delicadeza da índia. Balda quer forçar
Lindóia a se casar com Baldeta, enviando Cacambo para as batalhas na
esperança de que o índio morra para uní-la a seu filho.
No Canto II, Basílio da Gama relata o
encontro entre os caciques Sepé Tiaraju e Cacambo com o comandante português
Gomes Freire de Andrada, ocorrido às margens do rio Uruguai (chamado então de
"Uraguai"). O comandante tenta estabelecer um acordo com os índios,
sem sucesso, dando início aos combates.
O cacique Sepé Tiaraju lidera a
disputa e acaba morto. Cacambo, seu sucessor, é capturado e descobre que o
perigo estava o tempo todo na mão dos jesuítas. Os portugueses, então,
permitem que ele retorne a sua aldeia para alertar seus companheiros contra
os perigos dos jesuítas. De volta, o valente guerreiro é envenenado por Balda
e Lindóia, vendo-se forçada a casar com Baldeta, comete suicídio, deixando-se
picar por uma cobra venenosa.
Segundo o crítico literário Alfredo
Bosi no estudo História Concisa da Literatura Brasileira(São Paulo:
Cultrix, 2006), Basílio da Gama é o homem do fim do século XVIII "cujos
valores pré-liberais prenunciam a Revolução e se manteriam com o idealismo
romântico". Assim, pode-se dizer que O Uraguai prenuncia muitos dos
aspectos que serão desenvolvidos durante o movimento do Romantismo.
Características principais do poema
- exaltação da natureza e do
"bom selvagem", atribuíndo aos jesuítas a culpa pelo envolvimento
dos índios na luta;
- rompimento da estrutura poética camoniana;
- inovação no gênero epico: versos
decassílabos brancos, isto é, sem rima, sem divisão de estrofes e divididos
em apenas cinco cantos;
- ao contrário da tradição épica, o
poema conta um acontecimento recente na história do país;
- inicia o poema pela narração;
- discursos permeados por ideias
iluministas;
A cena da morte de Lindóia mostra as
características típicas do movimento árcade:
Canto IV
(...)
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia. Lá reclinada, como que dormia, Na branda relva e nas mimosas flores, Tinha a face na mão, e a mão no tronco De um fúnebre cipreste, que espalhava Melancólica sombra. Mais de perto Descobrem que se enrola no seu corpo Verde serpente, e lhe passeia, e cinge Pescoço e braços, e lhe lambe o seio. Fogem de a ver assim, sobressaltados, E param cheios de temor ao longe; E nem se atrevem a chamá-la, e temem Que desperte assustada, e irrite o monstro, E fuja, e apresse no fugir a morte. Porém o destro Caitutu, que treme Do perigo da irmã, sem mais demora Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes Soltar o tiro, e vacilou três vezes Entre a ira e o temor. Enfim sacode O arco e faz voar a aguda seta, Que toca o peito de Lindóia, e fere A serpente na testa, e a boca e os dentes Deixou cravados no vizinho tronco. Açouta o campo co’a ligeira cauda O irado monstro, e em tortuosos giros Se enrosca no cipreste, e verte envolto Em negro sangue o lívido veneno. Leva nos braços a infeliz Lindóia O desgraçado irmão, que ao despertá-la Conhece, com que dor! no frio rosto Os sinais do veneno, e vê ferido Pelo dente sutil o brando peito. Os olhos, em que Amor reinava, um dia, Cheios de morte; e muda aquela língua Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes Contou a larga história de seus males. Nos olhos Caitutu não sofre o pranto, E rompe em profundíssimos suspiros, Lendo na testa da fronteira gruta De sua mão já trêmula gravado O alheio crime e a voluntária morte. E por todas as partes repetido O suspirado nome de Cacambo. Inda conserva o pálido semblante Um não sei quê de magoado e triste, Que os corações mais duros enternece Tanto era bela no seu rosto a morte!
Quem foi Sepé Tiaraju?
Importante personagem na história do
país, o Sepé Tiaraju é retratado em O Uraguaicomo um guerreiro defensor
de seu território na tentativa de impedir que os portugueses se apropriassem
de suas terras e de seus gados. Morto em batalha, quando lutava contra a
decisão que dava as terras aos portugueses, o índio é considerado um herói nacional,
sendo nomeado "herói guarani missioneiro rio-grandense", e também
santo popular por alguma religiões brasileiras.
Desenho representando o índio
guerreiro Sepé Tiaraju
|
Assinar:
Postagens (Atom)