AULA DE
LITERATURA – TURMA: 26
PROFESSOR:
ELEMAR GOMES – ACESSE: www.aulasdaminahvida.blogspot.com
António Vieira defendeu também os judeus, a abolição
da distinção entre cristãos-novos(judeus
convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e
cristãos-velhos (os católicos tradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou
ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição.
Nascido em lar humilde, na Rua do Cônego, perto da
Sé, em Lisboa, foi o
primogênito de quatro filhos de Cristóvão Vieira Ravasco, de origem alentejana(região de
Portugal), cuja mãe era filha de uma mulata ou africana, e de Maria
de Azevedo, lisboeta. Cristóvão
serviu na Marinha Portuguesa e foi, por dois anos, escrivão da Inquisição. Mudou-se para o Brasil em 1609, para
assumir cargo de escrivão em Salvador, mandando
vir à família em1618.
António Vieira chegou à Bahia com
seis anos de idade. Fez os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas em Salvador, onde, principiando com
dificuldades, veio a tornar-se brilhante aluno. Ingressou na Companhia de Jesus como noviço em maio de 1623.
Em 1624, quando
na invasão holandesa de Salvador, refugiou-se no interior da
capitania, onde se iniciou a sua vocação missionária. Um ano depois tomou os
votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado.
Prosseguiu os seus estudos em Teologia, tendo
estudado ainda Lógica, Metafísica e Matemática, obtendo o mestrado
em Artes. Foi
professor de Retórica em Olinda, ordenando-se
sacerdote em 1634. Nesta
época já era conhecido pelos seus primeiros sermões, tendo fama de notável
pregador.
Quando da segunda invasão holandesa ao Nordeste do
Brasil (1630-1654), defendeu
que Portugal entregasse a região aos Países Baixos, pois gastava
dez vezes mais com sua manutenção e defesa do que o que obtinha em
contrapartida, além do fato de que os Países Baixos eram um inimigo
militarmente muito superior à época. Quando eclodiu uma disputa entre Dominicanos (membros da Inquisição) e Jesuítas
(catequistas), Vieira, defensor dos judeus, caiu em
desgraça, enfraquecido pela derrota de sua posição quanto à questão da Região Nordeste do Brasil.
Tarefa:
Leitura e exercícios
Texto 1
Ladrões
"Navegava
Alexandre-1 em uma poderosa armada pelo mar Eritreu-2 a conquistar a Índia, e como
fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os
pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém
ele, que não era medroso nem lerdo-3, respondeu assim: Basta, senhor, que eu,
porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada,
sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o
roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. (...)
O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno; os que não só vão,
mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre-4 e de mais
alta esfera-5; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento-6 distingue
muito bem São Basílio Magno-7. Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam
bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões
que mais própria e dignamente-8 merecem este título são aqueles a quem os reis
encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias, ou a
administração das cidades, os quais já-9 com manha-10, já com força roubam e
despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e
reinos; os outros furtam debaixo do seu risco, estes, sem temor nem perigo; os
outros, se furtam, são enforcados; estes furtam e enforcam. Diógenes-11, que
tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de
varas-12 e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a
bradar: Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos! Ditosa-13 Grécia que
tinha tal pregador! E mais ditosas as outras nações, se nelas não padecera-14 a
justiça as mesmas afrontas-15. Quantas vezes se viu em Roma ir a enforcar um
ladrão por ter roubado um carneiro; e no mesmo dia ser levado em triunfo um
cônsul, ou ditador, por ter roubado uma província. E quantos ladrões teriam
enforcado estes mesmos ladrões triunfantes?"
VIEIRA,
António. Trechos escolhidos. Rio de Janeiro: Agir, 1971.
VOCABULÁRIO:
1. Alexandre Magno (356-323 a.C.), rei da
Macedônia. Com suas conquistas militares, formou um dos maiores impérios da
Antiguidade.
2. nome dado pelos antigos ao Mar Vermelho, ao
Oceano Índico e ao Golfo Pérsico
3. estúpido
4. importância
5. nível
6. categoria
7. São Basílio Magno
(329-379)a.C.)foi
bispo de Cesaréia
8. justificadamente
9. já... já: ou... ou
10. malícia,
astúcia
11. filósofo
grego (413-327 a.C.)
12.
autoridades
13.
afortunada, feliz
14.
padecesse, sofresse
15.
insultos, ultrajes
Agora
responda em seu caderno.
1)Explique o
sentido que esta passagem tem no texto: "O roubar com pouco poder faz os
piratas, o roubar com muito, os Alexandres".
2)Por que,
segundo o autor, os ladrões "de maior calibre" não só vão mas levam
ao inferno?
3)Contrapondo
os pequenos aos grandes ladrões, diz o autor: "os outros, se furtam, são
enforcados; estes furtam e enforcam". Além do roubo, que outro grave delito
aponta Vieira nos grandes ladrões?
4)Uma das
passagens transcritas a seguir, por seu sentido genérico, contém a ideia
central desenvolvida pelo autor. Assinale-a e justifique sua resposta:
a)( )
"Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e
reinos..."
b)( ) "Lá vão os ladrões grandes a enforcar
os pequenos!"
c)( ) "O roubar pouco é culpa, o roubar
muito é grandeza..."
5)Transcreva
do texto passagens que comprovem as seguintes etapas do raciocínio de Vieira:
a) Começa o
texto com a narração de um caso particular.
b) A partir
desse caso, extrai uma ideia de valor geral a ser desenvolvida no resto do
texto.
Literatura/Barroco/segunda-série/ Professor: Elemar Gomes